domingo, 25 de novembro de 2012

Vestibular: aos que entrarão, e mais ainda aos que não!


Meses e meses sem passar por aqui...

Mas hoje é dia de fuvest! A primeira fase da Unicamp já foi. É a época dos vestibulares. Mando muitas boas vibrações aos que estão prestando fuvest hoje!!

E que após essa prova, todos - os que entrarão e os que não serão meticulosamente selecionados pelo filtro social - saiam e travem ao nosso lado a luta pelo fim do vestibular, pela universalização do ensino, e pela estatização de todo ensino privado, sem pagamento de indenização aos tubarões do ensino, donos dos grandes monopólios que vendem educação!

Porque cotas raciais, cotas sociais, não são suficientes! Sim, eu aceito essas migalhas do governo! Sim, me dê cotas, eu as quero! Mas não é só por elas que vou lutar. Que a luta pelas cotas raciais venha ligada à luta pelo fim do vestibular, porque não quero apenas alguns números de negros por cento dentro da universidade, eu quero absolutamente todos os negros que queiram estudar, dentro da universidade! Eu quero toda juventude pobre, toda juventude negra, toda juventude trabalhadora, das periferias, morros, favelas, todos que queiram, eu quero dentro da universidade, ocupando as salas de aula para estudar, e não mais para limpar! Não quero mais a população negra entrando apenas pelas portas dos fundos das universidades, para limpar banheiros, para servir bandejas, para flutuar no ar como se fosse um pássaro, se acabar no chão como um pacote flácido, agonizar no meio do passeio público e morrer na contramão atrapalhando o tráfego, como aconteceu com José Ferreira da Silva.

Porque quando eu falo do fim do vestibular, é dessa juventude que estou falando, da juventude que está do lado de fora, do outro lado do muro – e no caso da USP, é literalmente “do outro lado do muro”, ali, na comunidade São Remo. Essa juventude tem classe, tem raça, tem cor! Essa juventude, que quando entra na Universidade é pra trabalhar nos postos mais precários de trabalho, nos cargos terceirizados, ao sair para voltar pra casa corre o risco todos os dias de ser assassinada pela polícia! Como Cícera foi, trabalhadora terceirizada da USP, que foi assassinada pela polícia dentro de sua própria casa, na comunidade São Remo. E como estamos assistindo acontecer todos os dias pelas periferias e favelas de São Paulo, na chamada “guerra não declarada entre a PM e o PCC”, que na realidade é a brutal expressão do genocídio da população pobre e negra! O crime? Ser negro. Ser pobre.

Então, que essa juventude que está hoje nessa prova, que cada um deles se junto a nós nessa outra luta – não desvinculada da luta pelo fim do vestibular – pela PM fora das Universidades, escola, morros, favelas e periferias! Porque justamente a juventude que mais fica de fora do vestibular – e mais ainda aquela que nem sequer presta o vestibular, porque não sabe, não conhece, não tem R$120 para a inscrição, ou até mesmo sabe que não tem condições de passar nessa prova – é a juventude que mais sabe qual é o papel da polícia. Ontem assistimos a polícia espancar e levar preso um jovem, porque era negro, porque era pobre. Mas também assistimos uma mulher da comunidade, lá da São Remo, enfiar o dedo na cara do PM que disse que eles não eram gente de bem, que eram todos bandidos, e dizer “Você não é gente de bem. Você não é trabalhador, você sobe aqui pra matar trabalhador.”.  Policial não é trabalhador! Polícia é o braço armado do Estado, os cães de guarda do patrão!

Por fim, que cada jovem que está fazendo essa prova hoje, junte-se a nós na luta contra essa Universidade que temos hoje, por outro projeto de Universidade. Por uma Universidade que coloque todo seu conhecimento produzido à serviço da ampla maioria da população, e não mais de um ínfimo setor de empresários, latifundiários e governo. Por outra estrutura de poder na Universidade, que não seja mais a arcaica e antidemocrática que temos, onde um pequeno colegiado de poucos privilegiados doutores tomam todas as decisões que dizem respeito à comunidade acadêmica. Queremos a democracia, aquela que já foi defendida na Revolução Francesa de 1789, onde cada cabeça vale um voto. É a mesma democracia que temos do lado de fora da Universidade: passamos esse ano por eleições municipais e, com todas as contradições existentes nesse processo, ainda assim cada pessoa tem direito a um voto!

Que hoje, cada jovem que está prestando fuvest saia dessa prova com a raiva que lhe é legítima, e que com essa raiva junte-se à nós nessas lutas! Por uma transformação radical da Universidade! Pela PM fora das Universidades, escolas, periferias e favelas!