segunda-feira, 25 de julho de 2011

E como expressar a sexualidade livremente, se nem sabemos nos relacionar?

E de repente eu só quero gritar, e surtar, e chorar enlouquecidamente, e brigar com quem não fez nada. Eu quero ter todos os desvios possíveis, só essa noite. Só essa noite?
Se eu me permitir só essa noite, eu permitirei só mais uma. Só mais uma noite. E na semana que vem, só mais uma. Mês que vem só mais duas, talvez. Só mais três noites de surtos e desvios não há de fazer mal, certo? Certo? Não.

- Foco. Mantenha o foco. Concentre-se. Mas eu não consigo! Então chora, é isso que você quer mesmo. Senta e chora que é o que te resta. Ou levanta e mantém o foco. Dá um jeito, se vira! Mas será possível que você não vai conseguir nem escrever isso até o fim, sem parar zilhões de vezes para fazer... nada!? -

A questão é muito simples: ter clareza e consciência não é o suficiente! Falta muita força e luta. E eu sei que to reclamando a toa, “de barriga cheia”.

Pois vamos ao que interessa: relacionamentos e sexualidade dentro de um marco revolucionário. E aí, ta a fim de discutir? Porque eu não sei nada, mas to bem disposta a aprender.

Porque afinal, o que é um relacionamento revolucionário? O que significa expressar livremente sua sexualidade? O que é o tal do “amor livre”? Aliás, alguém aí sabe me dizer o que realmente significa amor? Porque eu vejo uma juventude de esquerda, tão disposta e apaixonada por uma luta, levantar consignas que não passam de consignas. Mas vejo também uma juventude revolucionária disposta e apaixonada enxergando todo seu conservadorismo, e muito disposta a estudar, entender, ir além da palavra de ordem, que quer romper com isso tudo. E eu quero ser parte dessa juventude também! Mas eu também sou obrigada a dizer que rompimentos não são assim tão fáceis. E retorno ao que disse antes, para romper não basta apenas clareza política e consciência dos erros. Tem que querer. Tem que estar cheio de disposição.

Porque se adaptar é algo muito fácil, muito simples. É o que toda sociedade faz. Adaptam-se ao que é correto. Relacionamento fechado, monogâmico, pra casar, sexo com uma só pessoa do sexo oposto – ou do mesmo sexo, o moralismo e adaptação também ocorre nas relações homossexuais – ter filhos, criar os filhos para que eles cresçam e tenham um relacionamento fechado, monogâmico, pra casar, fazer sexo com uma só pessoa do sexo oposto, ter filhos, criar os filhos para... enfim.

Acredito que, para além dos revolucionários dispostos a colocar esse tabu em pauta e romper com esse rotineirismo opressor, há também pessoas que se incomodam com essa regra geral. O que elas não conseguem enxergar é o porquê que essa situação não muda, e não mudará dentro do contexto que vivemos. Aí você vai dizer “porque a influência da igreja é forte demais, e não permite que se rompa com o marasmo e saia pecando por aí”. E eu te respondo: sim! Mas aí eu te digo que não é só isso. Vai além da opressão religiosa, e entra no plano político econômico. Vivemos em um sistema que se utiliza dessa opressão. O capitalismo se apropriou da família. A família é a instituição mais opressora que existe e o capitalismo cumpre muito bem o seu papel de sistema explorador ao se apropriar disso.

Mantém e legitima o machismo, e as mulheres continuam a ser “do lar”, “donas de casa” até mesmo quando são trabalhadoras, e aí cumprem duplas e triplas jornadas de trabalho ao trabalhar o dia todo fora de casa e chegar em casa e trabalhar mais ainda. E por que o capitalismo é quem legitima isso? Porque é muito mais lucrativo manter as mulheres trabalhando de graça em casa, do que manter restaurantes, lavanderias e creches comunitárias.

Mantém e legitima a propriedade privada, e as pessoas continuam presas a relacionamentos fechados e monogâmicos, para que se tenham a garantia de quem é o pai dos filhos, e assim sua herança seja passada adiante.

E aí chegamos ao ponto de que não basta só lutarmos sós para quebrar o que está dado em nós mesmos, porque não é o suficiente. Temos que quebrar esse sistema todo, para que todos possam ter a chance de realmente expressar livremente sua sexualidade, e se relacionar livremente com as pessoas. Construir relações profundas! E não, não estou dizendo que há uma ligação direta do tipo “fim do capitalismo = fim do machismo e opressão sexual”, porque não é assim que funciona. Mas, se lutarmos juntamente pelo fim do capitalismo, e pela livre expressão da nossa sexualidade, poderemos fazer dessas lutas uma só, e o fim do sistema explorador que se apropria das opressões nos abrirá um espaço para nos expressarmos.

Mas aí, depois de justificar o porquê quero discutir relacionamentos revolucionários, entro neles mais diretamente. Há um senso comum dentro da esquerda que se dispôs a discutir esse assunto de que há uma ligação mecânica do tipo “relacionamento revolucionário = relacionamento aberto”. Não. Não! Por favor, NÃO! Não há essa mecanicidade, jamais! Se assumirmos isso enquanto uma verdade, estaremos afirmando que qualquer relacionamento burguês e pequeno-burguês do tipo “ficando” ou “amizade-colorida” (em um linguajar facebookiano) é revolucionário. Que qualquer pessoa que transa com mais de uma pessoa é um revolucionário sexual. E isso está longe de ser real! 

Na real, a minha concepção (ainda sem estudos e aprofundamentos) é de que um relacionamento revolucionário é um em que as pessoas envolvidas têm a plena consciência de que elas são por si só, sem que uma tenha necessidade e dependência da outra. E o que rola é um companheirismo até o fim, e a liberdade de estar junto sem a necessidade e obrigação de estar junto. Ser companheiro é fazer parte ativa de todos os âmbitos da vida, simplesmente porque faz sentido, e faz bem. É enxergá-las como pessoas com suas particularidades, e unicidades, e fazer parte disso, ao invés de tomá-la como propriedade privada e tentar moldá-la a sua maneira. É construir e avançar juntos. E a partir do momento que se tem clareza do que é ser companheiro até o fim, que significa estar a vontade com o outro, e que isso é o que define o que é um relacionamento, se tem a clareza da possibilidade de se construir relacionamentos com mais de uma pessoa. E de se aprofundar as relações com essas pessoas. E quando se consegue construir relacionamentos profundos baseados no companheirismo, nota-se que o sexo faz parte disso e é um complemento das relações. E aí sim, com a clareza de que o sexo é a completude dos relacionamentos profundos e de camaradagem, é que se consegue ter a livre expressão da sua sexualidade. E é aí que o relacionamento aberto é revolucionário, por toda clareza e profundidade que levou a isso, e não ele por si só.
Porém hoje, no marco em que vivemos, enquanto uma juventude filha do neo-liberalismo, uma juventude fruto da restauração burguesa, conseguir estabelecer esse tipo de relação com uma pessoa só já é um avanço, porque a realidade é que não sabemos nos relacionar! Não sabemos amar!
Logo, por isso que um relacionamento aberto não é automaticamente revolucionário, e por isso que um relacionamento fechado pode ser, a princípio, revolucionário.

Mais uma vez, são apenas reflexões iniciais nada profundas de quem está começando a pensar o assunto, e muito disposta a estudar e discutir incansavelmente!

Porque estamos avançando nisso ainda. E ainda há muito que romper. Mas romperemos!